Durante um evento marcante da Coalizão Pelo Evangelho (The Gospel Coalition), o renomado pastor e escritor John Piper compartilhou uma experiência intrigante que lançou luz sobre a natureza da adoração na era da inteligência artificial (IA). Em seu sermão, fundamentado na passagem bíblica de Isaías 29:13 – "…visto que este povo se aproxima de mim e com a sua boca e com os seus lábios me honra, mas o seu coração está longe de mim" – Piper narrou um encontro com o ChatGPT que provocou reflexões profundas sobre a essência da verdadeira devoção.

Piper, figura central do Desiring God e uma voz influente no evangelicalismo reformado contemporâneo, explicou que solicitou ao sistema de IA ChatGPT a elaboração de uma oração concisa, com a duração de trinta segundos, imbuída do "mesmo espírito e teologia de Don Carson", o respeitado teólogo canadense e cofundador da Coalizão.

O pedido específico de Piper ao ChatGPT foi: "Por favor, escreva uma oração de 30 segundos para Deus, no mesmo espírito e teologia de Don Carson, em louvor à glória da graça de Deus."

A resposta da inteligência artificial deixou a audiência presente visivelmente impressionada. Piper compartilhou as palavras geradas pela máquina:

"Gracioso Pai, nos rendemos diante de Ti, o soberano Senhor da história e da redenção. Desde a eternidade era Teu plano derramar graça sobre pecadores imerecedores, através do sangue de Seu Filho amado. Nós Te louvamos pela glória da Tua misericórdia imerecida, sem medida, manifesta em Cristo crucificado e ressurreto. Que as nossas vidas, redimidas e santificadas pelo Seu Espírito, sejam vasos de louvor para a riqueza da Sua graça. A Ti seja a glória para sempre e sempre. Amém."

Apesar da eloquência e da aparente profundidade teológica da oração gerada, Piper levantou uma questão crucial sobre sua validade espiritual: "Isso é uma máquina. Eu te pergunto: isso é adoração? Não. Essas pessoas, essas máquinas, me honram com seus lábios e bytes, e seus corações estão longe de mim", declarou, ecoando as palavras do profeta Isaías.

A partir dessa experiência, Piper desenvolveu uma reflexão perspicaz sobre o propósito fundamental da criação. Ele enfatizou que o verdadeiro valor da adoração transcende a mera articulação de palavras, residindo, em vez disso, na profundidade do coração que genuinamente sente a realidade divina: "Vamos deixar claro o propósito do universo: por que você foi criado? Palavras? Computadores escrevem. Melhor que você. Sério. Melhor que eu. Eles não sentem nada."

Para Piper, a singularidade da existência humana reside precisamente na capacidade inata de experimentar a glória de Deus em sua plenitude e de responder a essa revelação com a totalidade do ser. "O universo existe para ter pessoas à imagem de Deus que sentem o valor da graça, que sentem a glória da graça, que sentem a beleza da graça, que sentem a maravilha da graça. E então tudo na vida delas passa a ter um sentido plenamente humano de ação e louvor a Deus."

O pastor concluiu seu argumento com um alerta contundente, reafirmando que a essência da adoração cristã não se encontra na excelência retórica ou na precisão teológica das palavras proferidas, mas sim na sinceridade e na autenticidade de um coração regenerado: "Eles não sentem nada. Por isso o universo é criado: para ter pessoas que sentem. Isso é incrível."

A experiência compartilhada por John Piper serve como um lembrete oportuno de que, em meio aos avanços tecnológicos e à crescente sofisticação da inteligência artificial, a verdadeira adoração a Deus permanece intrinsecamente ligada à capacidade humana de sentir, de se conectar emocional e espiritualmente com o Criador. Enquanto a IA pode gerar palavras que se assemelham à oração, ela carece da essência que define a genuína devoção: um coração que pulsa em resposta à graça divina.